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Médica Vera Cordeiro lança livro em que conta sua trajetória de 30 anos à frente do Instituto Dara

Há 30 anos, quando promoveu a rifa de um lençol para custear tratamentos de pacientes do Hospital da Lagoa, a médica Vera Cordeiro dava a largada em uma jornada que se transformaria em uma das ONGs mais respeitadas do mundo. A médica enxergou muito além da medicina. Viu que a história familiar de um paciente, bem como suas condições de moradia, renda, educação, saúde e cidadania eram problemas a serem enfrentados para curar uma doença. Para Vera, o ato médico não se completaria sem contemplar as dificuldades que o paciente ou sua família enfrentavam. 

Esse olhar de futuro e de políticas públicas capazes de curar é o que o leitor verá nas pouco mais de 200 páginas do livro A Cobertura do Mundo – Instituto Dara: Transformando Corações e Mentes, lançado pela editora Batel. A obra passeia pela história de três décadas do Instituto Dara (antigo Saúde Criança Renascer), organização social criada em 1991 pela médica Vera Cordeiro e por um grupo de profissionais do Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, que completa 30 anos em outubro. A autora testemunhou o impacto das iniciativas do Instituto em transformações psicológicas, comportamentais, identitárias, econômicas e sociais na vida de milhares de famílias atendidas. O livro conta ainda os bastidores das batalhas travadas pela médica, desde os primeiros anos de atendimentos e doações nas cavalariças do Parque Lage até hoje.

Fruto de um trabalho incansável, a obra foi escrita e revisada pela Dra. Vera, com a colaboração da jornalista Roberta Pennafort. Foram quatro anos de conversas, pesquisas, depoimentos e histórias contadas pela médica para a jornalista, que conseguiu reunir em tão poucas páginas a verve apurada da autora e a paixão com que defende as premissas do Dara. Toda a renda obtida com a venda do livro será revertida para ações do Instituto Dara.

“Acreditamos em uma metodologia multidisciplinar de combate à pobreza e trabalhamos para a criação de um mundo no qual os direitos humanos e a inclusão social sejam uma realidade. Nossos valores estão focados na responsabilidade social, integridade, solidariedade, transparência e justiça social”, explica Vera.

A narrativa do livro entremeia a vida pessoal da médica, o envolvimento de sua família e as renúncias da vida pessoal com a busca permanente de recursos, a parceria com amigos e empresas, as viagens e tudo que foi necessário para viabilizar as ações do Instituto. Também aborda como cada iniciativa influiu diretamente nas vidas dos pacientes e da médica ao longo dos anos. São histórias marcantes que refletem a realidade de muitos brasileiros, que tiveram suas vidas transformadas. 

“Não se trata de fazer caridade, aplacar as necessidades pontuais de quem tem pouco, ou quase nada. O que todos nós buscamos, cada um à sua maneira, é encontrar soluções novas para velhos problemas sociais: pobreza, doença, fome, falta de acesso à educação, à habitação digna. Buscamos uma mudança sistêmica”, reflete a autora.

Impossível não se emocionar com a narrativa envolvente, que mistura histórias pessoais da médica, pacientes e famílias atendidas, que tiveram suas vidas transformadas depois de passarem por equipes multidisciplinares, que incluíam médicos, psicólogos, nutricionistas e até advogados e arquitetos. Em um dos relatos, uma mãe, após a consulta, perguntou para a médica como iria alimentar o filho, já que estava desempregada. Em outra, perguntou se a médica tinha um emprego para oferecer. E, na mais comovente, se Vera tinha um pano para ela cobrir o filho, para que ele não adoecesse ainda mais. Como curar a pneumonia de uma criança que vivia em uma casa cheia de infiltrações e umidade?

 

“Acredito que uma vez que a pobreza é multidimensional, nossa metodologia multidisciplinar vai ao cerne da inclusão social. Um dia, esse trabalho, junto com outras instituições, vai se verter num movimento da sociedade civil para mudar o país. Eu não tenho dúvida disso”, avalia a médica.

Reconhecido nacional e internacionalmente por suas atividades, o Instituto Dara figura entre as mais eficientes do mundo, sendo a primeira na América Latina há 9 anos, e é mantido por doações de empresas e pessoas. Por meio de seu Plano de Ação Familiar, o Instituto desenvolve 150 indicadores de saúde, educação, cidadania, moradia e renda. São iniciativas reais e possíveis, que indicam soluções para a cura, não só dos pacientes, mas de uma nação de desalentados. 

Segundo Vera, o objetivo maior do livro é mostrar, como diz o provérbio africano: Quer ir rápido vá sozinho, quer ir longe vá acompanhado. Em outras palavras, trabalhando de forma coletiva podemos mudar as profundas desigualdades sociais no Brasil.

“Acredito que é possível e extremamente necessária uma mudança na nossa cultura para que realmente possamos viver numa sociedade mais justa e com menos desigualdade social. As transformações políticas e sociais não ocorrem somente através do voto, mas principalmente com efetivo engajamento de todos no dia a dia com pequenas ações que ao longo do tempo trazem um impacto na vida não só dos chamados menos favorecidos, mas nas diversas classes sociais. Num país com o tecido social esgarçado, a felicidade é impossível de ser alcançada individualmente. Essa estagnação e falta de esperança só terão fim quando houver um levante da sociedade civil em torno de causas que afetam a vida de cada um de nós. O momento chegou, o Brasil é um celeiro de trabalhos incríveis. As mudanças sistêmicas na sociedade são possíveis! Chegou o momento dessa transformação ganhar força assim viabilizando o tão sonhado bem estar e felicidade coletiva”, reflete Vera Cordeiro, que atualmente preside o conselho de administração do Instituto Dara, gerenciado por uma diretoria executiva e um time de profissionais e de voluntários.

O lançamento oficial será realizado no dia 4 de novembro, quinta-feira, às 19h em transmissão online direto do canal do youtube da Livraria da Travessa. Será um bate-papo mediado pela jornalista Cora Rónai, e contará com depoimentos da atriz Fernanda Torres, do escritor Celso Grecco e do empreendedor social Wellington Nogueira. Todo o evento será aberto ao público com acesso gratuito.